Guia turístico África do Sul – Parte 4
Começa aqui a quarta parte de um conjunto de posts e que completam o guia que criei para a África do Sul.
Resumo do que podem encontrar nos posts anteriores.
- O meu plano de viagem;
- O que precisas de saber antes de viajar para a África do sul/despesas obrigatórias;
- Joanesburgo, África do Sul;
- Qual a moeda da África do sul?;
- Como nos deslocarnos em Joanesburgo?;
- Onde ficar alojado em Joanesburgo?;
- Como nos deslocamos de Joanesburgo para outras cidades?;
- Onde ficar alojado em Hoedspruit?
- Onde posso ver a oferta de safaris, programas e alojamentos?
- Que operador para safari e atividades escolhi;
- Como funcionam os safaris?
- Sobre o Parque Nacional Kruger;
- Contactos de emergência;
- Mapa do Parque;
- Temperaturas;
- Posso fazer um safari no Kruger sem guia e no meu carro com um ou alugado?;
- Quais são as regras dentro do Parque Nacional Kruger?.
Poderás ainda assistir ao meu travel-vlog, a primeira parte desta Viagem
Inicia-se aqui a continuação do Guia Turístico para visitar a África do Sul
Os “Big Five”
Os queridinhos dos parques de vida selvagem, muita gente visita estes parques apenas para os ver, é o seu único interesse, no entanto o meu interesse ia muito mais além disso, sou apaixonada pelos mais pequenos, os insectos, as aves, pequenos mamíferos. Sou apaixonada na realidade por todo o reino animal à excepção de tubarões, possuo uma fobia totalmente irracional a este animal… e não adoro cobras, mas convivo pacificamente com elas à distância.
Na minha visita tive a sorte de ver 4 dos 5 maiores. Ficou a faltar-me o Rinoceronte, no entanto o motivo pelo qual este animal tem um avistamento dificil, deve-se ao facto de na altura da minha visita, estes se situarem mais na zona do parque que pertence a Moçambique, e por este ser o único animal cuja localização não pode ser comunicada, por uma questão de proteção do mesmo. Os rinocerontes são dos animais mais caçados devido ao seu corno.
Curiosidades sobre eles
Elefante africano
Não sei se este tipo de conteúdos vos interessa, mas eu sou aquela viajante geek, que ouve com atenção todas as palavras dos guias. Que faz imensas perguntas e que estuda imenso em casa. Na realidade, o meu sonho de profissão era ser biologa, mas a vida levou-me por outros caminhos.
Elefante Africano. A primeira vez que os vi foi na Ásia, pude tocar a pele deles e sentir amor. Achei-os os Gigantes da Terra.
O Elefante Africano é altamente caçado pelas suas presas em marfim para objectos de decoração e lendas sobre benefícios para o consumo humano.
Têm frequentemente crias e são muito protectores. Tomam banho de lama para proteger a pele. É extremamente sensível, a lama serve como se fosse um protector solar. A zona mais sensível é atrás das orelhas, podemos na realidade ver as suas veias a olho nu, e é por isso que esta é a zona onde os domadores na Ásia espetam as picaretas para os controlarem. Dormem cerca de 2 a 3horas por dia, de pé, com a cabeça e tromba encostada a uma árvore.
São responsáveis por arrancar árvores enormes de uma vez só. Têm uma digestão muito má, conseguindo digerir apenas 40% da comida que consomem, por isso as fezes de elefante teêm frequentemente plantas e frutas como a marula inteiras. São o respato de outros animais, e assim é o ciclo da vida.
Leopardo
Leopardo. O padrão da sua pele permite que se camufle com muita facilidade. Gosta de locais altos para descansar e dormir e também para deixar as suas presas após as caçar, uma vez que os outros animais não têm as capacidades de escalar e saltar para o topo de uma árvore como estes. Existem cerca de 1000 leopardos no Kruger Park.
Têm uma capacidade muito grande de se adaptarem a diferentes ambientes, mas são solitários, juntando-se com outros leopardos apenas durante o período de acasalamento ou durante a adolescência, como forma de sociabilização
São excelentes caçadores, com uma taxa de sucesso bastante elevada. Cravam no pescoço das presas as garras para as imobilizar e depois mantém a mordida até que estas deixem de respirar. As fêmeas são altamente territoriais, e quando têm crias, escondem-nas de forma a que ninguém lhes veja o rasto. Eu tive a sorte de poder avistar uma fêmea e a sua cria. Estávamos parados à frente de uma rocha gigantesca há quase 30 minutos, quando ela faz uma vocalização e de entre um buraco na rocha sai esta cria de leopardo (foto acima) que nos deu um momento raro.
Leão africano
Leões, os reis da savana e não da selva.
Os leões nascem com um padrão de pelo às manchinhas, semelhante em parte aos leopardos, só depois assumem a pelagem lisa.
Gostam de viver em grupo.
Os machos começam a desenvolver a sua juba a partir dos 2 anos de idade e quanto maior esta for, e mais escura, mais velho é o macho.
A juba protege o corpo durante as lutas com outros machos.
As leoas fazem o trabalho de caça por eles (maioritariamente). Caçam em bandos para tornar o momento mais eficaz. Podem atingir até 80km/hora, mas em curtas distâncias, por isso usam a pelagem para se camuflar entre a vegetação e quando estão perto, atacam.
Os leões na natureza comem em média 2 a 3 vezes por semana.
O tempo de gestação é de 3 meses a 110 dias, e o numero de crias 2 a 3, ainda que muitas vezes uma delas seja sacrificada por opção da mãe.
Dormem cerca de 22 horas por dia. E normalmente movimentam-se à noite, quando a temperatura é mais baixa.
Emitem sons maioritariamente de noite, ainda que tenha tido a sorte de os ouvir rugir durante de dia.
Búfalo
Búfalos, um dos animais da savana mais temidos. Os Búfalos são extremamente imprevisíveis, quando percebem que podem vir a ser atacados, organizam-se em grupos para protegerem a manada, e o sucesso dos predadores tem uma percentagem muito baixa de sucesso. Infelizmente são fortes contra predadores mas muito susceptíveis doenças, sendo frequentemente atingidos pela picada da mosca tsé tsé que leva a uma letargia e falta de coordenação, acabando por morrer. Contudo, quando vemos búfalos, vemos também grandes bandos de pássaros, os Oxpeckers alimentam-se de insectos e são felizes aliados no que conta ao controlo de pragas.
Rinoceronte
Ficam a faltar os rinocerontes, o único dos big-five que não vi na minha visita. Os rinocerontes são uma espécie protegida em África, uma vez que estes são altamente caçados para obtenção do seu corno. Acredita-se que o corno do rinoceronte tem propriedade medicinais após serem reduzidos a pó. O corno é na realidade feito de queratina, e não de osso, como muitos julgam. A queratina está presente nos humanos nas unhas e no cabelo.
São herbívoros, e consomem cerca de 45 kg de comida por dia, que pode ir desde plantas, frutas, folhas, galhos…
Tal como os elefantes, a pele dos rinocerontes é extremamente sensível, apesar de viverem em ambientes quentes, necessitam de tomar banhos de lama, para se protegerem de picadas de insectos e queimaduras solares.
Fauna e Flora
À data deste post, existiam no Parque Nacional Kruger, 336 espécies de árvores diferentes e 2000 espécies de plantas diferentes, que são alimento e abrigo de outros milhares de animais.
Alguns exemplos de espécies comuns de árvores no Kruger: Acácia de nó, Acácia delagoa, Arbusto uva-seca, Árvore-da-febre, Baobá, Figueira-brava, Marula Sclerocarya birrea, Mogno de Natal, Palmeira de Lala, Tamboti, entre muitas outras.
No que diz respeito aos animais, existem mais de 800 espécies de animais no Parque Kruger.
Em relação a números precisos, estes não existem, são uma estimativa feita pela contagem dos mesmos. Estima-se que em relação aos “big five” existam no parque 1500 leões, 17000 elefantes, 48000 búfalos e 1000 leopardos. O número de rinocerontes não está disponível para sua protecção.
O jogo das cinco coisas que poderás achar ou fazer no Parque Nacional Kruger
Encontrei este jogo num dos livros que comprei na África do Sul para saber mais sobre os animais e plantas e pareceu-me interessante partilhar convosco, pois o Kruger, é muito mais do que os “big five”.
O jogo é o seguinte:
- Os grandes cinco : avistar um leopardo, elefante africano, rinoceronte, búfalo e leão;
- Os pequenos cinco: avistar os filhotes de leopardo, elefante, rinoceronte, búfalo e leão;
- Os mini cinco: avistar o musaranho-elefante, formiga-leão, Tecelão-búfalo, Besouro-Rioceronte, e tartarga Leopardo;
- As cinco árvores: Marula, árvore-da-febre, Mopane, Baobá e Acácia de nó;
- As cinco características culturais naturais: visitar aBiblioteca em memória de Stevenson-Hamilton, Ruínas de Albasini, Ruínas de Thulamela e Mansorini, e Museu dos Elefantes em Letaba
- As cinco atividades que valem a pena fazer: Trilho de ciclismo em Olifants, outros trilhos a pé, ir ao cinema (sobre a vida selvagem) disponível em alguns campos, observação organizada e passeio diurno/nocturno, golfe.
- As seis grandes aves: avistar um Abutre Papada de Boi, Calau terrestre do Sul, Coruja Pescadora de Pel, Cegonha de bico de Sela, Águia Marcial, Abetarda Kori.
Fonte dos jogos acima: Mapa do Kruger Park – Identificação de animais, aves e cobras. Tabelas de rastos, atividades notáveis, registo de animais e aves, o Parque Nacional de Limpopo e Topografia e mapa colorido com relevo sombreado, de Andy&Lorrain – Tinkers, sem data
É garantido que consiga ver os big five ou algum animal que eu queira muito ver?
A resposta é não, o Parque Nacional Kruger é um parque de vida selvagem, onde os animais não conhecem limites, para além daqueles que o Homem lhes impôs, a linha delimitadora do parque. Existem dias em que não vemos por exemplo nem uma girafa, e outros em que vemos mais de 200 girafas. É a vida selvagem, é totalmente imprevisível, no entanto na estação seca é mais fácil de os avistar, uma vez que a erva está muito baixa ou quase inexistente, tornando-se mais dificil a camuflagem. Durante a estação seca, as raras poças de água são também elas locais de encontro entre diferentes espécies, por isso estas são áreas a visitar durante este período, pois aumentam a chance de avistamentos.
O parque é gigantesco, e o facto de ser permitido apenas conduzir nos estradões e estradas alcatroadas, diminui a hipótese de avistar animais. Mas calma, é possível vê-los. A probabilidade aumenta se escolherem uma opção com guia, estes tem um conhecimento dos melhores locais para avistamentos de diferentes espécies.
Existe ainda uma conversa aberta na rede social whatsapp onde todos os guias que têm licença para operar no Kruger, partilham a localização de diferentes animais, sendo que o rinoceronte é a única excepção, não é permitido anunciar locais onde estes estejam.
Nos campos base, como por exemplo o Satara, existem uns quadros magnéticos onde visitantes e guias podem colocar imans coloridos que correspondem a um determinado animal, para indicar onde estes foram avistados. No entanto este quadro não é muito fiável, uma vez que qualquer pessoa pode mexer nos imans.
A forma mais eficaz é simplesmente parar o carro ao lado de outro visitante e perguntar o que viram. Paramos dezenas de vezes durante o safari, tanto para perguntar como para informar onde estão os animais mais cobiçados por avistar naquele determinado dia.
Na foto acima, um leão africano. Para conseguir captar esta fotografia estivemos mais de 45 minutos parados em frente a um arbustro, pois existiam 2 leões deitados no meio das ervas. Em Março ainda é a época das chuvas por isso todas as plantas têm uma altura considerável, o que diminui a chance de vermos animais. Podemos passar por dezenas de leões, leopardos e outros animais e não sabermos que eles estão lá, pois estão deitados a dormir. Por isso tudo se resume a persistência e perceber que não é a bater o máximo de terreno que vamos ver mais animais, pois muitas vezes se sabemos que eles lá estão, pois há outros veículos parados em frente que já os viram, é só esperar, o momento mágico provavelmente vai chegar, e um segundo faz toda a diferença. Em ambos os dias que visitei o Kruger isto aconteceu, neste primeiro havia 2 leões e no segundo dia 2 leões idosos e 3 leoas. Tive a sorte igualmente de ouvir um rugido de um leão durante o dia, momento rarissímo de acontecer.
Existe um número de dias perfeito para visitar o Kruger?
A resposta depende dos factores, tempo disponível para viajar, orçamento disponível e principalmente o interesse. Eu estive no Kruger dois dias porque estive na África do Sul apenas 6 dias, no entanto se pudesse tê-lo visitado mais vezes, teria feito essa escolha, fiquei verdadeiramente apaixonada.
Sei que irei voltar à África so Sul, aliás esse era o plano em Agosto deste ano nas férias da família, levar a minha mãe a ver aquela natureza de perder de vista, no entanto a instabilidade que vivemos devido ao covid-19, indica que não será possível este ano, e que terá que ficar para uma próxima oportunidade.
Numa próxima oportunidade, irei optar certamente pelas opções de safari ao pôr do sol e noturnos, mas poder ver outras espécies que me apaixonam tanto.
Quanto custa uma viagem desta natureza?
Os valores dependem sobretudo do que vocês pretendem e podem gastar. Eu cometi o erro de ficar poucos dias, devia ter ficado mais, devido ao investimento do valor do voo, assim como a distância e duração da viagem, no entanto se tivesse ficado mais provavelmente teria lá ficado retida por causa da situação do covid-19, para além de que não tinha mais dinheiro disponível, gastei todas as minhas poupanças, mas não me arrependo por nada!
Não gosto de apresentar valores mas acho essencial para quem pretende organizar uma viagem deste tipo saber com o que contar. Nota: os valores destas viagens costumam ser muito superiores a isto, a minha pesquisa permitiu-me encontrar valores extraordinários, ainda que para muitos vão ser absurdamente caros, ir a África não é barato.
Valor gasto em voos, ida e volta de Portugal para Joanesburgo com uma escala em cada secção: 547,65€, havia mais barato mas era pela TAAG com escala em Luanda, mas eu adoro voar com a Swiss Airlines e a Lufhtansa, e foram por isso as minhas escolhas.
Valor da alimentação gasta no dia da viagem + dia seguinte em Joanesburgo + último dia de volta: 15€ , poupei aqui pois levei comida congelada e noodles na mala para poupar.
Seguro da viagem: 28,87€ , fiz pela Intermundial
1 noite no hotel Sunrock em Joanesburgo com transfer e pequeno almoço incluído: 66€
Pacote de alojamento + safaris + transfers + autocarro de e para o aeroporto + visitas+alimentação para 4 noites: 1095€
Noite extra no Rafiki Bush Lodge que não estava incluída no pacote + alimentação -126€
Passeio de balão de ar quente c/pequeno almoço incluído + certificado + transfer: 225€
Medicação necessária, repelentes e vacinas :118€ (a profilaxia da malária é um verdadeiro balúrdio)
Transfer de e para o aeroporto em Portugal : 18€
Doação de um kit para vítimas de cancro para a Hlokomela: 7€
Valor gasto em brinquedos para doar a crianças necessitadas: 82€ este valor era suposto ser inferior pois um conjunto de amigos disse que ajudava, o que acabou por não acontecer e eu entusiasmei-me nas compras, mas valeu a pena todos os segundos do olhar deles a recebê-los.
Gorjetas a guias e trabalhadores do Rafiki: 100€ , as gorjetas são “obrigatórias”
Souvenirs: 56€, comprei uma camisa que adorei numa loja de material técnico de safari, 4 imans, pulseiras cujo direito reverte para a doação de redes mosquiteiras para salvar crianças da malária, pulseiras para o apoio de programas de conservação dos rinocerontes, e uns pratos de madeira e estatuetas de madeira, pois comprei uma numa banca e fui “atacada” pelas outras artesãs com olhos em lágrimas, e eu não consegui dizer que não…
O que esperar do próximo post?
- O que fazer em Hoedspruit?;
- Centro de Reabilitação Animal Moholoholo;
- Rota panorâmica;
- Passeio de balão;
- ONG Hlokomela