Costa Vicentina – solo traveller – Setembro de 2014

Terminado de escrever a 10 de Setembro de 2014

“Esta viagem é uma completa loucura ” disse-me ela enquanto eu afundada em mapas de Portugal , estradas e livros de campismo planeava o itinerário da minha roadtrip . O medo intenso da minha mãe de perder a filha para uma viagem que planeei fazer sozinha .

” Promete-me que não vais para a montanha !” Disse-me ela . Ao que lhe respondi ” mãe , eu vou acampar na montanha ” . Tornou a repetir já com os olhos lacrimejados ” promete-me que não vais para montanha ” . Prometi lhe que teria cuidado e ela só dizia ” aquele que foi para a Arrábida e que conhecia a serra à anos também desapareceu numa tarde e ninguém encontrou sequer o corpo dele “. Esta assustou um pouco confesso , acho que era o objetivo dela , para a sua infelicidade , não me demoveu. Teve azar na minha personalidade . Saiu lhe filho homem introvertido e a filha aventureira  . Puxei os genes ao meu pai e de certa forma também a ela. O meu pai foi escuteiro , não me recordo se terá feito mesmo parte da chefia de grupo . Viajou pela Europa de mochila às costas , à boleia e a fazer campismo selvagem . Muitas das vezes a minha mãe foi com ele . Conheceram serras de uma forma que só quem pernoita nelas conhece , viajaram até ao frio da Suíça e assim fizeram as férias deles durante anos . Como queriam eles ter uma filha que passa as suas duas semanas de férias enfiada em casa com dois potes de manteiga de amendoim e nutela à frente , enquanto papa uma colectânea de comédias românticas e inunda o sofá de lágrimas de arrependimento ? Pois bem eu nao ia fazer isso. Fiz-me à estrada ao fim da tarde do dia 7 de setembro de 2014 , deixei a minha mãe a chorar por me ir embora. 

Vi o pôr do sol e um dos lugares mais bonitos que já vi . Filmei alguns desses momentos e fotografei outros . No primeiro dia dormi na casa de uma amiga já no inicio do roteiro que tinha planeado –  costa vincentina . Como forma de poupar horas de viagem para o dia seguinte e aproveitar para visitar a minha melhor amiga que infelizmente tão longe mora de mim .

De manhã acordei , pelas 8h . Preparei tudo e fiz me à estrada , o destino era a Zambujeira do mar para pernoitar, era um hora de viagem até lá , quando cheguei perto da costa não resisti e fiz um desvio . Visitei São Torpes , molhei os pés , apanhei conchas , visitei aldeias , vi o mar em diferentes destinos , vi faróis e cabos e foi aí que recordei a minha mãe.

Eram 11h30 quando cheguei ao Cabo do Sardão , vi um sinal a avisar ” acesso proibido a viaturas e indivíduos estranhos ao serviço ” , bolas !!! , pensei eu , eu queria mesmo ver este cabo . Era ponto obrigatório do meu itinerário. Achei que entrar era arriscar demais por isso tentei ir à volta . Descobri umas das mais bonitas paisagens que já vi . Uma formação rochosa , que mais parecia esculpida à mão , as ondas iam e vinham num movimento ritmado que quase parecia estarem sincronizadas com a música que tocava no meu iPod . Pensei ” porque não ir até ao ponto mais alto e tirar umas fotos e filmar um pouco ? Eu tendo um horrível medo de alturas , daqueles ridículos que se treme e que em casos extremos perco a força nas pernas.  Foi quando junto ao precipício , o meu jeito de desastrada me lembrou que talvez não fosse boa ideia, tropecei numa pedra , hoje ainda não sei como ,mas pus o outro pé a frente e felizmente safei-me de uma queda que me levaria à morte certa. 

Foi aí que conheci o Bernardo  . Jovem , altura normal, pele demasiado bronzeada pelo sol, alías vermelha, mochila às costas , chapéu daqueles que so os nossos avós se lembram de usar e maquina fotográfica ao pescoço . Loiro de olhos verdes com um ar meio hispânico , na casa dos 24 anos . Disse me “olá , falas português ?” E eu na minha ainda meio atordoada respondi-lhe que sim. Pediu-me que lhe tirasse uma fotografia , tinha uma daquelas máquinas com aspecto antigo que agora se fabricam , mas que são digitais . Fez me recordar a cânon do meu pai que tenho lá em casa e com quem infelizmente nunca me entendi . Está arrumada junto das coisas com que o meu pai artesanalmente revelava as suas fotografias . Bem … o Bernardo  fez uma pose e eu tirei-lhe a fotografia . Sorri e devolvi-lhe a máquina fotográfica . Disse- lhe ” é um inconveniente de se viajar sozinho ” . Ele com um ar surpreendido perguntou ” tu também ?” , pensei duas vezes antes de contar a um desconhecido que eu , uma rapariga de 22 anos , sozinha , fora de casa,  também viajava sozinha. Nunca se sabe os predadores que por aí andam. Pensei ” pensa rápido !” E disse lhe ” sim, sabes uma solução para estes momentos é um coisa destas ” e levantei o tripé que tinha na mão e que levo para todo o lado para evitar ter apenas selfies onde se denotam claramente o meu acne que não secou este verão devido à falta de sol . O Bernardo riu-se e contou-me que estava na estrada à uma semana , estava a fazer a Rota Vicentina a pé , invejei-o por momentos , gostava de ser capaz de o fazer mas infelizmente o meu joelho não facilita grande coisa nestas situações . Transportava uma mala às costas minúscula, em comparação à gigante e atolada que trago , não vá ser necessário algo e não levar ! Era estudante de um curso que não me recordo já do nome, no norte do país . Viajava sozinho porque os amigos se cortaram à ultima da hora , entendia-o . Era hora de me fazer à estrada , peguei nas minhas coisas e caminhei até ao carro. Disse -lhe ” então boa sorte ”  ao que ele me respondeu ” pode ser que nos encontremos por aí um dia ” ao qual retribuí um sorriso e segui o meu caminho .

Entrei no carro e fui em direção à Zambujeira , visitei a vila , saí do carro e começou a chover torrencialmente. Sim, torrencialmente !!!!  Soltei um valente “FODASSE” talvez alto demais ,  um velhote sentado no muro ficou a olhar para mim como se olha para uma pecadora por isso tentei disfarçar  o olhar . Entrei no ponto de turismo e pedi folhetos do que podia visitar na região , a senhora que lá estava deu-me um folheto das praias e outro de atividades desportivas a fazer . Quando me estava a ir embora disse me que iria haver uma procissão linda em Odemira , a única do ano, às 17h . Pensei para dentro ” porque raio é que eu haveria de querer ir a uma procissão ? Bem , talvez tenha ouvido o meu desabafo  e acha que preciso de uma limpeza religiosa”. Agradeci e corri até um quiosque onde me deparei com uma panóplia de revistas, optei pelo costume , a happy , iria precisar de alegria sem dúvida depois de ver as minhas ferias estragadas pelo São Pedro que resolveu que não iria colaborar . Paguei a revista e perguntei ao senhor ” isto é sempre assim ?” Ao que ele respondeu ” não , tem estado um tempo razoável , mas hoje e amanhã dão tempo assim ” soltei um “ahhhhhhhhhhhhhh” interior . São Pedro 1- Marta 0. 

Fui até à arriba a chover , escusado será dizer que fiquei encharcada . Liguei à minha mãe a avisar do contratempo e ela disse ” vai para um hostel , a mãe dá-te o dinheiro depois ” . Ao que lhe respondi ” ja fiz o pré pagamento do campismo ” . Falámos mais um pouco e desliguei. Fui até ao carro e comi a minha baguete de bife de Frango com um bongo que tinha preparado e refleti sobre o assunto . Já tinha pago mas a verdade é que não me apetecia ficar como um pinto dentro da tenda. Liguei os dados móveis e pesquisei online se a tenda que tinha trazido era impermeável . Só pensava , ” por favor Borbinha é bom que a tenda que me emprestaste seja impermeável ! ” O site da decatlhon dizia que tinha sido testada por debaixo de um chuveiro de 200 ml de água durante 4h . Pensei ” ok, muito esclarecida , que raio são 200 ml de agua ?”pensei na palavra chuveiro e pensei , bem um chuveiro deve deitar alguma quantidade de água . Resolvi acampar à mesma . Desloquei-me até ao Z mar .Tive que esperar um momento porque o check in era apenas a partir  das 14h . Ainda chovia . Entrei e disse ” Bom dia tenho uma reserva , queria fazer o check in ” , ao que a senhora me respondeu ” terão que vir cá todos para por a pulseira e preciso de todas as identificações ” ao que inspirando fundo respondi ” sou só eu ” . A rapariga de recepção que até então apenas olhava para o teclado levantou os olhos do computador e soltou um “o quê sozinha?” talvez um pouco alto demais . Por momentos pensei se esta viagem não seria mesmo como a minha mãe dizia ” uma loucura “, respirei fundo e pensei ” claro que não marta , isto é o que tu és “. Ela colocou-me a pulseira no pulso , explicou me o mapa do parque e desejou me uma boa estadia.

Seguiu -se encontrar o melhor local para montar o estaminé , perto mas não perto demais dos balneários . Encontrei o sítio perfeito, segunda fila de alvéolos . Estacionei o carro e comecei a montagem .

Tinha comprado um colchão daqueles insufláveis pois na última viagem fiquei com alguns hematomas nas ancas , comecei a encher , achei que estava tudo conforme previsto apesar de não aparentar estar a encher , pois , não estava não, não encheu . Comecei a ver a minha vida a andar para trás e foi então que me lembrei , mais um menos um , fazem companhia aos que tenho nas pernas fruto da fantástica gaveta dos cabides e das caixas mal enfiadas nas prateleiras do armazém da Disney Store . Estendi-o à mesma na tenda , montei tudo e lembrei-me que tinha que ir à wc.

. Fui até ao balneário e na porta havia um  papel com o seguinte aviso “a partir de 08/09 este balneário encontra-se fechado ” , inspirei fundo e procurei o mais próximo, não era no fim do mundo mas pouco faltava . Agarrei a toalha de praia e fui explorar o espaço . Vi uma grande gaiola com araras lá dentro , sobre a qual irei fazer uma sugestão ao Zmar devido às condições demasiado “de jaula” que têm , e vi um piscinão !!!

Sim, não sei se esta palavra existe mas encontro-me no direito de a inventar agora . 100 Metros de piscina azul rodeadas de deck de madeira , camas de lona , um relvado com camas de rede e chapéus de sol . Pensei ” escolhi o sítio certo ” . Tinha acabado de parar de chover por isso despi a minha roupa e escolhi uma cama , estava tudo vazio devido à chuva e foi então que por segundos o sol apareceu , um sol abrasador ainda que por vezes um pouco tímido devido as nuvens que faziam a sua passagem , mas era sol! Pus o meu protetor solar , sentei-me a borda da piscina e atirei me .

Nadei durante 10 minutos e voltei para a minha cama . As pessoas começaram a chegar aos molhos, famílias , casais , de tudo um pouco , menos gente sozinha . Curti o sol , e quis ir comer um gelado , não queria perder a cama mas não podia deixar lá a mala , tirei o telemóvel , o iPod e o que era mais de valor e fui pelo deck até à barraquinha sempre de olho na mochila . Voltei apreciei o meu magnum sandwich.

Acho que desde que viajo sozinha que reparo mais em certas coisas , o jeito ridículo com que os homens nos tentam cortejar , a mudança de andar que fazem que se assemelha a um orangotango quando passam à nossa frente . Estava sentada na borda da piscina quando debaixo de água saem dois rapazes que começam a cochichar e a olhar para mim .  Fui para a cama e começo a ouvir “psst psst , doçura ” respirei fundo e ignorei , foi então que responderam ” não faz isso be be Be bela ” soltei uma gargalhada, dessa nao esperava eu.  Eles insistiram mas foram tão ignorados que acabaram por desistir . Até o nadador salvador que era um pão tropeçou em frente à minha espreguiçadeira e era adepto daquela “mudança de andar à orangotango ” . Se os homens vissem o quão ridículos por vezes são …. ao menos subiu-me o ego.

Eram 19h e resolvi ir experimentar o circuito de manutenção do parque , vesti os meus calções , o top e andei e andei e não o encontrei , encontrei sim  um curral de patos mas circuito nada . Corri um pouco ( tentei ) por causa do meu joelho e regressei à tenda. Peguei nas coisas para tomar banho , e fui tomar um duche . Quando saí do balneário já era noite , foi então que se iniciou a aventura de encontrar as coisas para fazer o jantar . A lanterna tinha pilhas fracas , telemóvel sem bateria. Senti-me com 6 anos de novo , aquele medo que tínhamos quando jogávamos ao quarto escuro e apalpávamos algo que não era suposto . Preparei a minha sopa , jantei, lavei a loiça e tentei arrumar tudo.

Fui até à tenda de eventos  onde tinham informado que haveria uma festa as 21h30 . Não tinha visto o programa por isso fui às escuras . Chego lá e vejo imensas crianças , tal não é o meu espanto quando começo a ouvir ” sou uma taça , uma chaleira … ” , para quem não conhece este é um hit do panda e os caricas , um grupo de música infantil !!! De trás de um palco saem dois rapazes vestidos de palhaços e eu soltei uma gargalhada . Durante 30 minutos cantaram e dançaram “a dança do pinguim ” “vira vira bate vira ” , entre outros . Senti-me ridícula por as conhecer a todas , e de cor , e ser talvez a única que as cantou a todas. Os palhaços foram embora e minutos depois voltaram dois rapazes, os mesmos que estavam vestidos de palhaços, e deram uma espécie de aula de zumba na qual achei ser melhor não participar.

Fui até à sala de convívio e ainda consegui apanhar o final do episódio dos jardins proibidos . Novela que eu amava em pequena. Vi uns minutos e resolvi ir deitar-me . Cheguei à tenda . Encharcada pela humidade , deitei-me , tentei arranjar uma posição minimamente confortável uma vez que não tinha colchão , e adormeci .

Acordei a meio da noite com a sensação de já ter dormido tudo , e ia mesmo levantar-me , até que olhei para as horas e o despertador marcava as 04h39 . Abracei a nursi e o mikey com força e virei-me para o outro lado . Demorei algum tempo a deixar-me dormir , mas acabei por me vencer a mim mesma .

Eram 08h10 quando o meu despertador tocou ” i hate to see you cry ” , desliguei-o , esfreguei os olhos e olhei para o forro da tenda . Dezenas de bolinhas presas à minha tenda que fariam felizes muita gente que conheço , eram caracóis , e às dezenas ! Tentei retirar alguns mas sem sucesso . Preparei o meu pequeno almoço , a mistura de 3 cereais que faço todas as manhãs e leite , ainda que a escaldar por estar dentro da tenda . Tentei dar uma arrumação nas coisas que no dia anterior apalpei às escuras para encontrar o que queria, vesti o bikini e fui para a piscina . Tal foi o meu espanto quando lá cheguei e estava fechada . Eram 9h03 da manha e só abria às 10h. Pensei em entrar no frezco , restaurante do eco Camp , mas estava cheio de gente a tomar o pequeno almoço e eu já tinha comido . Resolvi sentar-me nos sofás construídos com paletes no deck superior com vista para a piscina , achei que seria mau demais fazê-lo sem consumir por isso pedi um café . Sentei-me no sofá e pousei o copo de plástico no joelho .

Não sei se quando estamos sozinhos notamos mais quando olham para nós mas senti-me um cachorrinho doente na montra de um veterinário. Acho que não houve ninguém que não tivesse olhado para mim , feito algum comentário ou olhar de pena . Agora que penso nisso talvez seja por naquele  parque nunca se vê ninguém sem uma criança atrelada à perna a berrar que viu uma formiga voadora . O café demorou a arrefecer , o sol estava demasiado quente , mudei para as mesas à sombra . Nunca mais eram 10h , resolvi ir dar uma volta . Tinha pensado no dia anterior alugar uma bicicleta para ir até a vila à praia , planeava nessa tarde ficar até depois do pôr do sol e jantar algo por lá . Mas só abria as 10h. E eram 25 km.

Eram 9h50 quando abriram a cancela , mais uma vez tinha uma piscina só para mim , todas as cadeiras à minha disposição , escolhi o melhor spot . Fui a primeira a entrar na água e a primeira mergulhar . Saquei do meu iPod e ouvi música durante horas . Adormeci umas 5vezes .

Eram 12h30 e o calor abrasador convidava à sombra , arrumei as minhas coisas e fui até ao gabinete de desporto alugar uma bicicleta , infelizmente não se podia sair do parque com ela, o que me deixou um pouco triste. Fui de bicicleta até à tenda , fiz o almoço , risoto à la marta com salsichas de frango, uma delícia .

Estava um pouco mole e fui para dentro da tenda escrever estas crônicas mais um pouco enquanto recarregava o iPhone . Quando dei por mim já era quase hora de ir para a praia , mas antes ainda queria ir pedalar um pouco. Preparei tudo para a praia , e preparei a roupa para mais logo quando chegasse tomar banho sem andar novamente no jogo do escuro . Pedalei  e pedalei , andei a ver o parque todo até que avistei umas placas coloridas ao longe , era o circuito de manutenção ! Falava em 15 pontos de exercício com diferentes tipos . Força , equilíbrio e cardio. Achei que ia ser canja ir de bicicleta, era só um circuito

Os primeiros sete fizeram-se bem , veio o oitavo … E esperava me uma descida de 6 metros e uma subida de 10, entre cada os restantes exercícios !!!!!! Os primeiros ainda levei a bicicleta pela mão , a pedalar com aquela inclinação só se quisesse fazer um cavalinho , a meio tive que desistir , já não dava mais !

Estava imenso calor , suava que nem sei lá o que , e estava a ficar tarde . Voltei , arrumei a bicicleta, verifiquei se estava tudo no sítio e parti para a praia.

Cheguei à vila , não havia lugares para estacionar em L , a única forma que eu tenho a certeza que nada acontece . Avisto um lugar e penso “oh não , é em S, e a descer !!!!” . Lá tentei  a minha sorte e à segunda tinha o meu Mumu estacionado com categoria de craque . Nunca pensei . Peguei na mochila , pus às costas , no chapéu de sol, pus às costas , peguei no saco reutilizável do supermercado e fui até à entrada da praia. Atolada de gente! Uma delas , a que me parecia mais bonita dizia que só podia ser frequentada com maré vazia, mas eu não sabia como estava a maré. Andei a ver se nos 3 cm de areia que restavam eu cabia , aquilo bem arrumadito cabia mais gente , mas as pessoas só pensam no seu umbigo. Por sorte um grupo de estrangeiros ia embora , e era a minha deixa .

Desci até à praia e montei o meu estaminé . Espetei o chapéu de sol , estendi a toalha e arrumei tudo para mais logo fazer o que tinha planeado , filmar o por do sol . Eram 16h30, um calor abrasador , a água boa demais , apesar das estranhas e rijas algas que havia por todo o lado , não me incomodaram . Fui à agua 5 vezes , talvez esse seja o motivo por estar praticamente surda de um ouvido .

Eram 19h e fui tentar tirar umas fotos junto às rochas . Mil olhares se viraram, sou só uma deviam olhar para outros sítios onde há menos gente mas anyway.

A praia começou a esvaziar , não sei muito bem o porquê pois o que se iria seguir era indiscritível . A maré tinha vazado circunstancialmente , havia 2 casais na praia e eu. O sol começou a descer ,montei o tripé a câmara e os 17 minutos eu se seguiram deixaram o meu coração a bater depressa e uma lágrima ao canto do olho . No meu iPod, em modo aleatório tocou a música “The climb” da miley cyrus,  na época em que ela ainda não era uma badalhoca . Fiquei sozinha na praia por meia hora . Sentei-me na areia e limitei me a apreciar .

A maré ja ia longe, e as duas praias juntaram se . A lua brilhava no céu , enorme e linda .

Chegaram duas senhoras , falavam alemão, não soube o nome delas mas vou lhes chamar Kate e Mary , vinham de mão dada, calculo que fossem mulher e mulher. Perguntaram-me se falava inglês . Respondi-lhes que sim e fizeram-me perguntas sobre as rochas da praia e o chilrear intenso dos pássaros .

Despedi-me delas e subi a escadaria para dizer adeus aquele areal fantástico .

Resolvi ir comer a um restaurante bem pontuado pelo tripadvisor, o meu novo melhor amigo . O ” casino da ursa ” , um restaurante Pizzaria . Vi o menu para ver se ainda tinha dinheiro suficiente . E entrei . Ao meu encontro veio um rapaz que mais tarde vim a saber que se chamava Alex . Com ar de surfista , cabelo mega mega curto e um grande alargador na orelha.

“Boa noite , Mesa para 1 ” pedi eu , ao que ele respondeu ” desculpe ?” E eu tornei a pedir ” sim , é mesmo para 1″ . Ele fez um ar espantado e perguntou ” a sério ?” . O meu eu interior teve vontade de lhe responder que não , dizia aquilo so para me divertir . Sentei me à mesa e pedi uma mamma mia e uma agua . Aproveitei para ligar à minha mãe e à sara. Bebi a garrafa de agua toda antes da pizza chegar , e quando finalmente chegou achei que não ia ter estômago para comer aquilo tudo . Cortei pedaços pequenos, enquanto via o futebol . Desejei ter um telecomando telepático naquele momento mas não tinha .

Não sei como, mas comi a pizza toda . Pedi a conta e tirei o cartão de multibanco . A empregada trouxe me um tablet que me deixou em cima da mesa . Não pareceu querer que eu pagasse , por isso levantei-me e fui pagar. O Alex acelerou o passo até ao balcão , disse que não precisava de me ter levantado , mas uma vez que ainda queria passar num supermercado para comprar pão para fazer o almoço para a viagem , tinha que me despachar. Não sei porque não o vi antes , mas o Alex tinha menos 30 cm que eu mas continuava a ser mega giro . Agradeci e fuim-e embora. 

No caminho até à vila tinha visto uma placa a dizer que havia um intermache em São Teotónio , por isso procurei a morada . Ridiculamente fechava as 20h30 no verão e 20h coisa que não se entende .

Voltei para o eco Camp , estacionei o carro e peguei na bicicleta , fui até à tenda de eventos onde decorria “supostamente ” um espectáculo com música dos anos 70,80 e 90 chamado ” anos de ouro “. O que estava mesmo a acontecer era mais um espectáculo do panda e os caricas . Nessa noite não me apetecia . Fui até ao carro novamente a pedalar para ir tomar um banho . Já tinha preparado tudo , por isso peguei no saco e fui até aos balneários . Tomei banho , e quando me ia vestir não havia roupa interior , não sei onde caiu nem como consegui perder as duas peçass , mas a verdade é que nunca mais apareceram e o mistério permanece em aberto .

Arrumei o necessaire e fui aos saltinhos por andar com os tênis mal calçados a servirem de chinelos de quarto. Rezei para não encontrar ninguém no caminho que pudesse notar que de alguma forma eu não usava nada por baixo do pijama com calções extra largos e uma camisola mega justa . Desejei por momentos ter escolhido o pijama do monstro das bolachas , mas não havia nada a fazer senão andar o mais depressa possível até à tenda.

Nessa noite fui dormir cedo , deviam ser umas 22h45. acordei imensas vezes durante a noite a ser o prato principal de todos os insetos da Zona . Não sei como raio lá entraram dentro mas nem o meu repelente os demoveu. E eu sou SÓ alérgica a eles.

Acordei sozinha . Sem a ajuda do despertador pelas 7h39 . Bebi o meu mega copo de agua matinal , preparei os meus cereais , e comi , tudo sem abrir a tenda .

Achei nessa manha que sair mais uma vez sem roupa interior era arriscar demais , ainda para mais à luz do dia , por isso vesti o bikini e a mesma roupa do dia anterior . Fui até ao balneário onde escovei os dentes, penteei o cabelo à gato e lavei a tijela e a colher do pequeno almoco. Voltei para a tenda e comecei a arrumar tudo. O interior da minha tenda tinha mais areia que a praia onde tinha estado no dia anterior, não sei como lá entrou uma vez que fui mega cuidadosa. Consegui arrumar tudo e enfiei tudo ao milímetro dentro do carro. Peguei na bicicleta e fui até à recepção que ficava a cerca de 800 metros.

Estacionei a bicicleta e dirigi-me ao balcão onde pedi para fazer o check out. Acho que o rapaz percebeu que estava sozinha pois quando saiu o recebido viu apenas uma pessoa na folha e olhou para mim com um ar esquisito. Saí da recepção e pedalei até à tenda novamente, onde deixei os documentos e fui até à piscina para deixar a bicicleta. Eram 9h15 e o gabinete só abria as 10h. Sentei-me nas palete-sofás e escrevi mais um pouco. Chegou a hora e entreguei a bicicleta. Fui a pé até ao carro, entrei e fiz-me à estrada.

O itinerário que planeei inicialmente tinha como próxima paragem o algarve, com passagem pelos restantes pontos da costa vicentina, mas a Sara quando soube da minha viagem, partilhou do medo da minha mãe, e disse que tinha que ir passar uns dias com ela e o namorado na lagoa de albufeira. Dia 12 tinha que estar em casa, o dia da festa do Borbinha, à qual nao podia de todo faltar, uma vez que é o único momento do ano em que consigo ver todos os meus amigos. Saltei a paragem do Algarve e vim mais cedo. Podia ter ficado na psicina até as 18h mas quis fazer uma surpresa à minha mãe e aparecer no seu trabalho de surpresa com a sobremesa do almoço!

Fiz-me à estrada. Não podia ter saltado V.N. de Milfontes por isso fui ao sitio do costume, à Mabi. Pedi duas wafles simples e um croissant com chocolate para levar. Escusado será dizer que 15 minutos depois já só havia a wafle dela.

A Sara mandou-me mensagem a dizer que em Almada chovia torrencialmente, incluindo dentro da tenda onde íamos dormir… já não podia voltar para trás, mas não fazia mal, numa próxima oportunidade voltaria.

Não me tinha apercebido do tamanho que isto ficou, mas após ter demorado três dias a escrevê-lo no bloco de notas do meu iphone, não podia parar.

Encorajo toda a gente a fazê-lo, aprendemos coisas sobre nós que não sabíamos e sentimo-nos “maiores” por superarmos mais um objetivo.

Mais uma vez, não me arrependo, fui sozinha mas hoje sou mais feliz do que no dia anterior a ter ido. Dia 13 de manhãnzinha faço-me à estrada de novo, com destino ao Norte do país, com principal paragem no Gerês.

Isto faz-me feliz, isto é o que eu sou.”