Roadtrip pela Eslovénia – Dia dois

Roadtrip pela Eslovénia – Dia dois

“Hoje foi o dia em que pensei que ficava numa montanha… adorava fazer imensas piadas hoje, mas não consigo…
O meu dia começou às 4h00 da manhã. Excitada para o tão esperado hike aos alpes julianos. Combinámos às 7h00 em bled então saltei da cama e fiz uns ovos mexidos, bebi um café manhoso e fiz double check em tudo na mochila.

Junto à casa alugada, pronta para sair

Fiz me à estrada, pelas 5h30, e o sol já tinha presenteado o dia. Assim que me comecei a aproximar de Bled, começaram a surgir umas montanhas recortadas no horizonte, e lá veio a torneira! TAU tiro e queda, imaginar me lá em cima 6h depois e por estar tão feliz/triste por estar ali.
Foi aí que começou a tocar na rádio uma música sensualona do tony carreira esloveno.. aproximei-me do local onde me iriam buscar, pois como já disse no centro de Bled temos que entrar em modo bairro, para conseguir estacionar, só funciona à batatada e se tivermos 10 euros para pagar por CADA meia hora.
Claro que a minha micro bexiga tinha que mandar um alerta e procurei um sitio refundido onde “aparentemente ” ninguém me viria as joias da coroa. 2 minutos depois whisky Charlie done (aka número 1), e uma comichão gigantesca nas pernas. Adivinhem lá em cima do que é que fiz chichi han han? Exato, urtigas altamente recortadas, perna toda às bolhas. Achei eu que seria o pior do meu dia.. nem estava começar!
O Ian, o guia que me ia levar ao topo dos alpes apanhou-me no carro dele e fomos até ao escritório da empresa de A.T. onde iríamos ter com um “casal idoso ” dizia ele (esperem…) e outra rapariga.
Achei que irei ter companhia para ir devagarinho e absorver as vistas… ohhh esta lontra fofinha estava tão mas tão enganada… pois ia subir até ao inferno!!!!!!! Assina-lo que o hike era “indicado para familias com crianças pequenas “, esqueceram-se foi de dizer que era para crianças nao tugas, e para malta dos países nórdicos que sobe o everest enquanto mexe os cereais…
Nao sabia eu ainda o inferno que me esperava…. um ganho altimétrico de 700m nuns miseros 4 km.. significa que temos que estar SEMPRE a subir , não há nada plano durante 2h30 ,mas calma.. 2h30 ja estava eu a hiperventilar…quando começamos a subir e eu não consigo recuperar o ar dos pulmões, o suor escorria-me pela cara tipo fonte e as dores eram tantas mas tantas que ja nem sabia qual era o membro que me doía mais.. com um catano, calharam me 3 kilian jornet (google it) da Holanda e da Bélgica.. estava lixada.. lembram se das 2h30? Passou para 1h30 com aquela malta.

Numa paragem para tentar recuperar o fôlego com aquele sorriso de “tirem-me daqui!

700 m de desnível em 1h30!!!!! Repleto de pedras soltas, escarpas que nos matavam ali tipo em segundos se um pé escapasse, e advinhem quem é a pessoa mais desastrada do planeta? MOI, a lontra fofinha que já teve mais acidentes que eu sei lá…
No caminho contavam histórias de ter subido o Kilimanjaro e terem ido a nem sei quantos países. Juro que tentei responder, mas não havia oxigênio… fiz 2/3 da subida sozinha.. eles nao abrandavam e eu não conseguia mais..
A melhor parte? O meu rabo conheceu uma situação gravitacional que ele nunca tinha visto, nunca “flutuou” tão alto.
E a segunda melhor parte? sozinha ali e o caminho não era marcado, certamente que andei mais que eles porque me perdi meia dúzia de vezes…
Estava no inferno e não sabia.. ainda… quando cheguei ao topo só me lembro de quase me ter atirado para o chão e chorar compulsivamente durante 20 minutos.. não sei se pela vitória se por saber que teria que descer pelo MESMO sítio… para quem tem problemas de joelhos as descidas são fatais…

No topo, ainda a absorver a vitória.


Após fechar a torneira tentei aproveitar a vista ao máximo, limpar as lágrimas e aproveitar aquilo que as montanhas mais me dão, um abraço invisível que me dizem que vai ficar tudo bem, e que não sabemos o que é a vitória se não soubermos o que é a derrota.
Sentei me em silêncio por 30 min a inspirar… e a aproveitar aquela neve no topo…


Quanto à descida quando chegou a hora nem havia palavras.. perdi 2 unhas dos pés devido ao desnível.. lado positivo, para a semana tenho desconto na pedicure, tenho um andar novo, conheçi novos grupos musculares e tenho 2 bolhas tao mas tão grandes que ocupam tipo o dedão todo..
Eu ainda perguntei se nao dava tipo para chamarem um helicóptero para me irem buscar, disseram que teria que haver um acidente, e mesmo com a minha pergunta “para que lado é que me atiro?” Não me levaram a sério.. nao entendo porquê.
Foi sem dúvida o pior, mais exigente e horrível hike que alguma vez fiz que nem que me pagassem tornaria a fazer.
Chegámos a Bled 4 horas antes do previsto, graças aquela malta maluca que não me deixou respirar e que me deixou sozinha na montanha quase o caminho todo..
Durante 12h não senti fome, a dor era tanta que ate me esqueci da parte de ingerir kcal e proteína.. ainda estou a pensar como terminei aquilo… a prova do que não nos mata torna-nos mais fortes.. apesar de eu ter apelado aos reis dos ursos pardos para me virem comer e acabar com o sofrimento mas deviam ter mel nos ouvidos…
E qual foi a ideia iluminada a seguir?

Arranjar uma sombra ao lado do lago para poder tirar as botas 10 min e comer… e o que aconteceu? Uma caminhada de 7km até à sombra seguinte disponível morfar a minha sandes de hambúrguer enquanto Bled estava inundado de malta a tomar banho porque estão por cá 30 graus.

Em Bled após o almoço a tentar amenizar as dores


O que fazer a seguir? caminhar até ao carro e tan tan tan… 12 km de distância.. siga…
E
ideia seguinte?
Ir ao Vingtar gorge ( tipo os passadiços do paiva daqui).. e mais o quê mais o quê? 3 km pumbas.. devo ter tirado tipo 80 fotos lá, pareço um cachorro abandonado em 90% delas.


Voltar a casa.. 70 km e comer massa fria.. demasiado cansada para cozinhar. Dormir.. esta lontra fofinha precisa de dormir…Até manhã às 4h00…

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