Roadtrip do Norte
Roadtrip ao Norte do País com paragem prolongadas no Parque Nacional Peneda Gerês – Setembro de 2014
Terminadas de escrever e publicadas a 20 de Setembro de 2020.
“Foi no dia 13 setembro de 2014 , que acordei pelas 8h05 para iniciar a minha roadtrip do norte. Nessa noite tinha dormido na casa do meu amigo Borbinha depois da sua festa de aniversário , o único momento do ano em que consigo ver todos os meus amigos .
Escusado será dizer que não dormi nada , eu bem tentei no colchão que havia no chão, mas a azáfama era tanta que o volume vocal não baixava. Jogaram risco toda a noite e eu precisava mesmo de descansar , muitas horas de carro me esperavam. Fiz-me à estrada .
O primeiro destino seria Aveiro, no entanto quando vi a placa a dizer Coimbra , lembrei-me de que à muito tempo que gostava de visitar a quinta das lágrimas e a fonte dos amores, era o momento oportuno, fiz um desvio. Cheguei a Coimbra pelas 11h45 . Inicialmente perdi-me , como sempre , o meu gps é uma grandessíssima treta a maior parte das vezes. Vi o Portugal dos pequeninos ainda que apenas por fora e visitei o miradouro do inferno . Uma vista linda sobre a cidade de Coimbra , com um rio lindo que separava as duas margens . Procurei no meu gps pontos de atração turística na zona e fui à descoberta da quinta das lágrimas .
À entrada estava uma Senhora que me informou de que visitar a quinta tinha um custo de 2,50€, por um valor tão irrisório paguei e entrei . O mapa não dizia muito , perdi-me umas dez vezes no interior da mata , parecia que não tinha fim . Uma vegetação soberba , algumas com centenas de anos . Aves lindas , de todos os tamanhos e feitios . Estava difícil encontrar o que levou a visitar a quinta , a fonte dos amores e a fonte da lágrimas onde dizem que permanece o sangue de Inês de Castro , a princesa que sem saber se apaixonou pelo seu irmão, D. Pedro de Castro . Fotografei e filmei tudo o que podia .
A fome começou a apertar, tinha feito um hamburguer de peru na véspera, e aproveitei a vista para o comer num banco de pedra .
Estava a ficar tarde e eu ainda queria ir visitar Viana do Castelo , mais concretamente o santuário de Santa Luzia , ao pôr do sol . Ao descer a estrada vi um parque lindo, tinha que parar . Fui até ao parque e sentei-me com as pernas penduradas para o rio , apreciei aquela beleza . Os pássaros ouviam-se nas árvores e risos ternos de crianças ouviam-se por todo o lado.
Na rádio estava a passar uma informação de que haveria nesse mesmo dia uma festa em Braga chamada ” noite em branco ” , um espetáculo das 19 as 07 da manhã , em que toda a cidade se vestia de branco , haveria música do Pedro Abrunhosa , Ana moura , Azeitonas … entre outros . Curiosamente nesse dia vestia os meus calções favoritos , e um top , ambos brancos . Ironia do destino . As lojas ficariam abertas até tarde , e seria tudo decorado com balões e roupa branca. Tudo patrocinado pela “Nos”. Foi então que a minha mãe enviou me mensagem a informar que em Viana do Castelo Chovia torrencialmente , e não tive outra hipótese senão mudar de planos . Resolvi que haveria de acampar em Braga , peguei no meu roteiro de campismo , mudei as rotas do gps e lá fui eu . Estava verdadeiramente cansada e não sei se foi por ter comido , mas os meus olhos tiveram vontade de se fechar várias vezes na auto estrada . Entrei numa estação de serviço , recostei o banco , tirei a almofada do banco de trás e dormi ferrada uns 30 minutos. Acordei encharcada do calor que estava . Fiz-me à estrada. Demorei cerca de 20 minutos a encontrar o parque , julguei que nunca mais o encontrava , mas lá consegui . Cheguei, estacionei o carro e vi o parque . Uma coisa minúscula , com necessidade de MUITA manutenção , com chão rijo e mal preparado . Parecia mais um parque infantil ao abandono . Entrei na recepção e disse a senhora que gostaria de acampar por uma noite . A senhora pediu-me o documento de identificação de todos os campistas e eu respondi que seria só eu. Do outro lado veio a resposta do costume ” sozinha ????” . A senhora era mega esquisita , fazia pandan com o parque . Escreveu os meus dados num caderno daqueles antigos onde se escreviam as atas de reuniões , e um senhor acompanhou-me . Escolheu o sítio onde eu iria acampar e ficou a olhar para mim . Estacionei o carro relativamente perto , montei a tenda e coloquei o saco cama no anterior . O senhor sempre a observar-me como um mirone . Senti que talvez devesse trancar a tenda a cadeado durante a noite .
Pedi um mapa na recepção para chegar ao centro da cidade e orientar-me para voltar mais tarde, uma vez que o parque ficava ainda a 3 Km do centro da cidade numa subida com muito pouca luz e mau aspecto . Antes de ir para a cidade precisava realmente de um banho por isso peguei em tudo e fui até ao balneário . Um edifício minúsculo e amarelo , com 2 chuveiros e 2 sanitas muito velhas . Tomei banho e coloquei a mochila as costas . Peguei no mapa e lá fui eu.
Cheguei à praça dentro de cerca de 20 minutos. No caminho entrei numa loja dos chineses chamada “Cheio Cheio ” , e que cheio que estava mesmo . A maior que alguma vez já vi , do tamanho de um hipermercado continente . Comprei uma lanterna para a cabeça que mais tarde me podia vir a ser útil nos trilhos do Gerês ao anoitecer .
As ruas abarrotavam de gente . Entrei em imensas lojas e estava verdadeiramente esfomeada por isso fui à procura de um café que tinha visto quando procurava o parque de campismo chamado ” a casa das bolas “. Tinha bolas de Berlim com todos os sabores que se possa imaginar.
Infelizmente não a encontrei mas encontrei “a nata ” . A nata era do mesmo grupo da casa das bolas mas vendia de tudo um pouco , sobretudo pasteis de nata , de limão, ameixa , framboesa , doce de ovo, nutela , etc ! Comi uma bola de Berlim que estava deliciosa .
Andei durante 3h e achei melhor ir comer qualquer coisa . Estava tudo a abarrotar de gente . Pensei em ir ao Mac , o happy meal estava com o Brinquedo mais fofo de sempre , aquele bichinho verde do Jogo do telemovel que come doces em forma de estrelas. Estava verdadeiramente a abarrotar por isso fui comer uma sandes ao subway.
Durante o fim da tarde houve um espectáculo de acobracias aéreas mas vi muito pouco . Dei umas voltas , queria muito ver o abrunhosa mas no programa dizia que só iria começar as 24h , ou seja às 2h com os atraso e os azeitonas so seriam as 4h. Estava fora de questão , eu estava de rastos .
Procurei um supermercado e comprei 4,5l de água e um chocolate que enfiei na mochila e voltei para o parque. Tentei andar o mais depressa possível porque ja era de noite e eu tinha que andar naquela estrada nada aconselhável a caminhar sozinha.
Cheguei ao parque, pelas 22h10. À porta estava o guarda do parque que me cumprimentou e que me disse que os meus amigos já se tinham ido embora, ao que perguntei “desculpe?”, e ele respondeu: “o rapaz e as três raparigas”. Eram basicamente o grupo da tenda da frente.
Entrei na tenda e foi quando descobri que o chão era super inclinado e que iria dormir de cabeça para baixo. Por isso virei o saco cama para a porta e tentei dormir. Às 4h/5h da manhã os meus queridos vizinhos da frente chegaram e começaram a conversar como se fossem cinco da tarde. Como se já nao bastasse a chuva torrencial que não me deixou dormir tinha que ouvir aquelas araras irritantes.
Eram mais ou menos 7h30 quando acordei, arrumei as minhas coisas e fui à recepção para fazer o check out.
Comecei a magincar se iria direta para o Gerês, uma vez que o check in seria apenas a partir das 14h00 e então decidi visitar Braga. O dia estava cinzento mas nada dizia que iria chover. Tendo em conta o que tinha comido na noite anterior, nada melhor do que subir as escada do Bom Jesus de Braga. Comecei a subir as escadas que iniciam o Bom jesus, de tripé e mochila às costas.
Uns 200 degraus depois , uma paisagem linda coberta de um musgo com uma cor mística que me fez recordar Sintra. De repente começo a ver toda a gente a correr no sentido contrário ao que eu estava a ir, não entendia o porquê de o estarem a fazer, mal sabia que o que me esperava era a chuva mais torrencial que eu já tinha visto na vida.
A água caía com uma violência extrema, os trovões ouviam-se bem perto, as ruas a inundarem a uma velocidade alucinante. O meu cabelo ficou completamente encharcado, os meus tênis, pés, tudo. 6 dias depois a minha roupa ainda não secou. Corri até ao carro e embrulhei-me na minha toalha de praia, a bater o dente. Senti-me perdida nesse momento, chovia torrencialmente e eu não sabia até que ponto compensaria subir a serra do Gerês se o tempo iria estar assim,uma vez que com chuva torrencial os percursos pedestres tornam-se demasiado perigosos para serem feitos. Liguei à minha mãe, que não ajudou grande coisa, aliás por vontade dela eu tinha voltado para casa nesse dia. Eu tinha um desejo, um plano e decidi que não o iria contornar, que eu queria tanto voltar àquela serra, que eu precisava realmente daquilo, que com ou sem chuva eu tinha que ir.
Eram 11h30 e resolvi ir até ao Braga Parque, um centro comercial em braga, para comer qualquer coisa. Comecei a pensar na temperatura que se fazia sentir no exterior e aproveitei o facto do centro ter primark para comprar um pijama mais quente e meias, uma vez que tinha ficado sem meias e tinha levado um pijama de verão.
Diziam que o verão eram em setembro, não sei onde ele esteve.
Resolvi fazer-me à estrada e ainda não tinha chegado ao parque natural e já estava apaixonada por aquelas paisagens. Um rio azul lindo, espécies de árvores que só se vêm nos filmes das fadas.
Comecei a subir a serra, uma estrada super estreita que me causou vertigens imensas vezes, cheia de curvas e contra curvas. Tentei parar o carro o máximo de vezes possível para apreciar aquelas vistas maravilhosas. Confesso que pensei que a cada curva que se seguia que um pedragulho me iria cair em cima e eu iria virar panqueca.
Cheguei ao Ermida Gerês Camping, o sítio onde tinha marcado para ficar. Estacionei o carro e entrei na recepção, estava vazia, mas assim que entrei um senhor saiu de uma sala e cumprimentou-me. Disse-lhe que tinha uma reserva para um bivaque, ele lembrou-se de mim instantaneamente.
Era o senhor Carlos, mal eu sabia as aventuras que iria viver no gerês por causa dele. Deu-me a chave do meu bivaque, uma construção de madeira que resolvi alugar em vez de montar a tenda uma vez que estava a chover imenso. Ele falou-me de tudo o que fazia no parque , canoagem, trekking, jipe e eu disse-lhe que alinharia instantaneamente. Tinha ido ao Gerês como forma de “retiro”, queria superar medos e viver novas experiências. Falou-me de uma senhora que estava no parque, também sozinha, chamada Maria. Quis conhecê-la de imediato, saímos da recepção e a Maria estava a mexer no porta bagagens do carro. Imaginava alguém com a minha idade ou similar, mas a Maria tinha o cabelo já meio grisalho, apesar de aparentar ser bastante mais nova do que realmente é. Vestia um fato de treino com um ar bastante confortável. Tinha um sorriso nos lábios que me fez logo gostar dela. Apresentei-me e o senhor carlos sugeriu fazer-mos um percurso pedestre, o PR14, com 13 km, um circuito circular com cerca de 5 horas de duração, e que passava pela cascata do Arado, um dos sítios que queria ir. Convidei a Maria de imediato, fui arrumar as minhas coisas e fizemo-nos ao caminho. Foi aí que comecei a ter contacto com as paisagens do Gerês, uma beleza de perder o fôlego.
Comecei a partilhar com a Maria algumas coisas sobre mim e aprendi imensas coisas sobre ela. A Maria tinha 47 anos, conhecia praticamente o mundo inteiro. Era babysitter pelo programa OPER, programa em que vai viver para outros países durante algum tempo enquanto toma conta das crianças. Tinha vivido em tribos índias, e conhecia de tudo um pouco. Devido a erros do passado não consumia carne nem peixe, era vegetariana. Apaixonei-me pela vida da Maria nos primeiros vinte minutos. Senti que podia confiar nela, que ela era genuinamente boa pessoa e que aquela viagem ainda podia vir a ser mais do que eu pensava.
Nessa manhã tinham ido fazer a canoagem, uma visita de uma hora a remar que terminava num paraíso, mas infelizmente eu não estava lá, e como a Maria já tinha feito não ia repetir, e só com uma pessoa não fazia sentido.
Chegámos à cascata do arado duas horas depois, apaixonámo-nos logo pela vista. Na água havia dois noivos a serem fotografados. Subimos até ao cimo das rochas e decidimos que tínhamos que ir até à água.
De pedra ente pedra, chegámos a meio da cascata. Queríamos ir mesmo para debaixo da queda de água mas parecia impossível escalar aquela rocha em segurança. Felizmente um grupo de jovens vinha de lá e perguntámos como tinham passado. Acabámos por tentar e a verdade é que chegámos ao outro lado. Uma água transparente que ficava azulada e verde em contacto com as rochas. A Maria começou a tirar a roupa e ficou de roupa interior, atirou-se logo para dentro de água. Eu achei-a muito fria de início mas quis ir lá para ao meio, acabei por escorregar numa rocha e fiquei toda molhada à mesma por isso aproveitei.
Começou a ficar frio (ainda mais ) então regressámos para a Ermida. Vimos o pôr do sol sobre as rochas e comecou a chover, mas continuámos o nosso caminho.
À chegada a Maria convidou-me para jantar, disse que oferecia. Eu tinha levado refeições para todos os dias, mas ela não e por isso acabei por lhe fazer companhia todos os dias.
Fomos à casa do criado , um restaurante delicioso na aldeia que tem parceria com o parque. Comemos uma sopa deliciosa, e a Maria como é vegetariana, pediu arroz e broculos cozidos.
Conversámos durante imenso tempo e foi aí que eu senti que conhecer a Maria foi das melhores coisas que me aconteceu no Gerês.
Voltámos para o parque, estávamos super cansadas. Tínhamos ouvido falar que todas as manhãs era tocado por um senhor diferente um búzio gigante que chamava as cabras todas da aldeia, mais de 600, para que fossem pastar para o meio da montanha. Sendo uma aldeia comunitária funcionava como uma comunidade, consoante o número de cabras de cada morador, por exemplo, um senhor tinha 10 cabras, mas outro tinha 20, então o que tinha 20 ia o número de vezes correspondente ao tamanho do seu conjunto de cabras. Era um espéctaculo fabuloso por isso combinámos na manhã seguinte ir até lá. Fomos descansar e ela pediu-me que na manhã seguinte eu a acordasse. Pelas 23h00 já estávamos a dormir. Choveu torrencialmente toda a noite, não consegui dormir grande coisa.
Pelas 7h00 o meu despertador tocou, eu vesti rapidamente a roupa e fui bater à porta da Maria, ainda chovia, por isso vestimos os impermeáveis e pelo caminho vi o nascer do sol sobre a montanha, soberbo.
Quando chegámos ao ponto onde supostamente começava o “chamamento” e perguntámos a um senhor onde começava mas ele informou-nos que por estar a chover as cabrinhas iriam passear mais tarde. Chovia imenso por isso decidimos deixar para outro dia.
Entretanto recebi uma sms do Sr.Carlos a dizer que tínhamos que dar a volta àquele dia, e eu perguntei o que ele sugeria, ao que ele respondeu “ Desde as águas quentes de espanha às frias do gerês , estou disponível”. Corri até à recepção e disse que queria ir às aguas quentes. Fui chamar a Maria mas ela estava meio tristonha porque não tinha dormido grande coisa , e talvez se fosse embora nesse dia , mas consegui dar-lhe a volta e ela acabou por alinhar.
Sucedeu-se um dia que eu nunca esperei.
Entrámos no jipe do Sr. Carlos, visitámos o Miradouro da Pedra Bela, a FABULOSA Mata da Albergaria, miradouros díspares, cascata do rio homem, etc. Andámos imenso tempo à procura de lobos de binóculos mas infelizmente não encontrámos nenhum.
Sempre que saímos do jipe chovia torrencialmente.
Chegámos a Lóbios, em Espanha pelas 11h00 e esperávamo-nos uma piscina natural com água quente (natural). Ninguém sabe muito bem a origem da temperatura da água.
O “Xô Dom Carlos” (ele vai-me matar quando vir isto), tinha levado uma máquina brutal que filmava debaixo de água, então mergulhámos e brincámos. A Maria mostrou uma terapia que se faz dentro de água quente que me fez sentir nas nuvens, cantámos, até fizemos massagens nas costas uns nos outros, foi um dia fabuloso. Soltámos gargalhadas que eu nunca esperei.
Já eram 14h00, mas a fome não nos demoveu, tínhamos levado um carregamento de bolachas que partilhámos entre os três e passámos por Vilarinho das Furnas. Julgava que iria ver as ruínas da aldeia mas infelizmente estava tudo submerso pela água da barragem. Vimos imensas amoras selvagens que apanhámos e dividimos pelos três, DELICOSAS!
O senhor Carlos queria ir a um local, que não conhecia, e como confiava em nós e achava que nós seríamos capazes nós obviamente alinhámos. Estacionámos o jipe e pusemos a mochila às costas, e começámos a descer a serra por um trilho. Quando chegámos lá abaixo os nossos olhos não queriam acreditar no que viam, uma cascata linda, em rochas que pareciam recortadas pelo homem. Com uma espécie de buracos que eram piscinas.
Fotos acima, o nosso sítio “Mígico”, Setembro de 2014
Resolvemos que havíamos de ir até à agua apesar do frio que se fazia sentir. A Maria foi para a ponta da cascata fazer os seus rituais e eu e Sr. Carlos sentámo nos numa rocha, pusemos os pés dentro de água, eu olhei para ele e só lhe perguntei “vamos?” , ele, sorriu , e disse “CLARO!”. Já tínhamos tirado o fato de banho por isso o senhor carlos foi de calças, felizmente a minha roupa interior era da cor do bikini e acabei por vestir a parte de cima. Entrámos na água, completamente cristalina, apesar de completamente congelada. Rimos até mais não, apreciámos o que a natureza nos estava a oferecer. Foi um momento mágico e tenho a certeza que nenhum dos três irá esquecer aquela lagoa. Não tínhamos mais roupa por isso fomos encharcados para cima, entrámos no jipe . Já eram 17h00 e perdemo-nos no tempo. Visitámos mais pontos do gerês e acabámos por ir à Vila do Gerês, uma coisa pequeníssima, que fecha depois de agosto, coisa que não faz sentido nenhum. Fomos até ao “vai vai”, um café /restaurante onde eu pedi , para variar,um cachorro delicioso, o Sr. Carlos um hamburguer que mais parecia uma francezinha e a Maria uma sandes de queijo com tomate. Para sobremesa dividimos um crepe de chocolate e banana.
Decidimos que tendo em conta que aquela lagoa não tinha nenhum nome visível, nós teríamos que lhe dar um, algo que de certa forma ilustrasse a amizade que se criou naquela viagem. Pensámos em imensos nomes, mas em portugues “lago da amizade”, nao lhe fazia juz, então pensámos em palavras que descrevessem aquele sítio, veio-nos à cabeça as palavras “mágico “ e “místico”, então juntámos as duas e dava “mígico”, rimos durante imenso tempo por causa dessa junção e a verdade é que não conseguimos arranjar um nome para ela.
Regressámos à Ermida e tomámos um banho. Havia 3 novos hóspedes no parque, um casal, que pouco conhecemos e um rapaz sozinho, o André. Fomos bater-lhe à porta e apresentamo-nos, convidamo-lo para visitar o Gerês connosco. O André era jovem, magrinho, moreno, um pouco tímido, algo compreensível, uma vez que duas estranhas, que nem donas do parque eram foram-lhe dizer olá como se o conhecessem desde sempre. O André tinha ido ao Gerês com a intenção de subir a serra de bicicleta. Ficaria dois dias e depois ia seguir para a Nª Sª da Graça. Era de Gaia e trabalhava como recepcionista num hotel na mesma localidade. Acabou por optar não ir connosco na manhã seguinte porque queria subir a serra.
Fomos ter com o Sr. Carlos à recepção. Tínhamos combinado que uma vez que a Maria estava sempre a cantar e Sr. Carlos era um músico fabuloso , íriamos fazer uma noite musical. Ele pegou na sua guitarra, e só de ouvir a música, começou a toca-la sem pautas. A Maria tocou no tambor que tinha levado e eu no pau de chuva e tocámos até estarmos exaustos. Rimos durante horas e fizemos melodias lindas. Pelas 24h fechámos o portão do parque de campismo e fomos descansar. Chovia torrencialmente, como sempre por isso decidimos mais uma vez não ir ver as cabrinhas porque com chuva o ínicio do ritual é incerto.
Dormimos até nos apetecer acordar, bati à porta do bivaque da Maria , ela acordou, vestimo-nos e eu disse-lhe que gostava muito de ir ao poço azul e à ponte da Misarela.
O Sirius, o cão do parque foi –se sentar à minha porta a fazer-me companhia. Enquanto a Maria se despachava fui levá-lo a passear até aos cavalos que ficavam os 300 metros mais abaixo.
O Sr. Carlos nessa manhã ainda estava a dormir, por isso era D.Guida que estava na recepção, a amorosa irmã do Sr.Carlos, que me dava um calduço se eu estivesse ao pé dela e lhe tornasse a chamar “Dona Guida”. Perguntámos-lhe como chegávamos ao poço azul, e ela explicou-nos tudo. Até uma zona podíamos fazê-lo de carro, mas os 5 km seguintes teriam que ser feitos a pé. O tempo estava instável por isso resolvemos ir até à Tribela de carro e fazer o resto a pé. A D.Guida emprestou-nos bastões de caminhada quando viu que andávamos com uns ramos para nos ajudar a apoiar nas caminhadas, e foi isso que me salvou a vida, várias vezes durante aquela caminhada.
Entrei no carro com a Maria, tínhamos preparado um almoco para comer a ver o poço azul, e fizemo-nos à estrada. Perdemo-nos imensas vezes, fomos dar a uma estrada onde achámos que o meu carro nao passaria, por isso a Maria foi averiguar, foi então que ao puxar o travão de mão, um lindo e enorme falcão me passou à frente do carro. A primeira ave da serra que vimos, fiquei histérica. A Maria foi averiguar e nunca mais voltava por isso tentei fazer subida, mas o meu carro derrapou e por pouco não embateu numa árvore. Estacionei o carro a salvo e fui à procura do caminho certo, acabei por o encontrar e tentei assobiar à Maria para ela voltar, mas ela não voltava. Comecei a ficar preocupada mas passado uns minutos ela voltou, ufa.
Entrámos no carro e descobrimos o caminho até à Tribela onde estacionámos e colocámos a mochila às costas e o impermeável, e os bastões presos nos pulsos.
No início do trilho vimos duas moto 4, o que indicaria que iríamos encontrar gente no caminho. Descemos até ao rio, e atravessámos a ponte subimos e descemos a montanha 3 vezes, chegámos a uma altura que nos apercebemos que nos tínhamos perdido. As mariolas (conjunto de pedrinhas postos por caminhantes para ajudar a orientar na montanha) supostamente indicar-nos-iam o caminho, mas a verdade é que elas indicavam três caminhos diferentes. Liguei ao senhor carlos e apercebemo-nos que tínhamos subido a montanha demais, por isso fizemo-nos ao caminho. Foi nessa altura que dei a minha primeira queda que se não fosse os bastões teria acabado muito mal. A rede do telemovel foi-se e comecou a chover, ainda que pouco. Comecei a recear cair no meio daquela montanha e não ter ninguém que soubesse que eu lá estava. O céu indicava que ia chover imenso, não havia rede no telemovel e um helicopetro de resgate dificilmente chegaria ali. Fiz um alto drama, mas não desistimos. Apercebemo-nos a certa altura que as fezes de cabra nos levariam ao caminho certo, e foi nessa altura que encontrámos o casal, os donos das moto 4. Indicaram-nos o caminho e tornamo-nos a perder, mais uma vez tínhamos que ter virado, mas a Maria encontrou o caminho. Quando cheguei ao poço azul vou confessar que fiquei um pouco desiludida, apesar de nas fotografias ele parecer azul, não o era, era verde acastanhado, por causa das chuvas que tinham havido.
O céu ficou cada vez mais cinzento, resolvemos almoçar rapidamente e voltar para trás. Eu comi o meu feijão frade com atum e a Maria as suas peças de fruta e barritas de Guaraná.
Apesar de termos levado o bikini estava mesmo muito frio nesse dia, e o factor de estarmos tao longe e do tempo estar incerto levou-nos a decidir que não iríamos ao banho desta vez.
Voltámos a colocar tudo às costas e voltámos. Houve momentos em que a instabilidade das rochas, o facto de estarem escorregadias , quase que provocavam alguns acidentes. Foi então que eu escorreguei numa rocha, e mais uma vez, não sei como, quando dei por mim estava sentada com o pé torcido, apenas apoiada com o bastão no precipício. A maria voltou atrás e o pé doía-me, sacudi-o e desejei que a dor passasse. Ao início doeu só de pôr o pé no chão, depois a dor felizmente acabou por amenizar. Retornámos por um caminho diferente do que tínhamos feito inicialmente. Observámos aquela paisagem soberba e retornámos ao carro. Voltámos para o parque de campismo e contámos ao Sr. Carlos e à D.Guida a nossa aventura.
Pelo caminho passámos no mini miradouro da aldeia para comprar recordações, mel , chá e azeite. Foi aí que encontrámos o André. Tinha feito 40 km de bicicleta, e estava exausto e cheio de dores nas mãos, uma vez que teve que ir a travar a bicicleta a descer durante imenso tempo até à vila. Achei que ele era louco, mas admiro-o por o fazer.
Descansámos um pouco e eu pedi à Maria para irmos à cascata do Tahiti, apesar de ela já ter ido, eu ainda nao tinha ido, e por isso, enquanto não tornava a chover de novo decidimos ir. Fui até ao bivaque do André, que ficava à frente do meu, e fui convidá-lo para vir conosco, ele aceitou e preparámo-nos. Fui pedir indicações à D.Guida, ela disse-me umas 20 vezes para termos mil cuidadosa. A cascata do Taiti é perigosíssima, morrem lá pessoas todos os dias durante o verão devido aos acessos serem um perigo enorme. Ela deu-me bastões para o andré e fomos no meu carro. Chegámos lá e eu percebi o porquê de tanta gente lá morrer, tive medo que o meu joelho cedesse. O andré resolveu que havia de descer, e conseguiu.
Um casal apareceu e eu perguntei se era muito difícil, que também lá gostava de ir. A Maria não queria ir, mas eu não ia desistir. Eles ofereceram-se para me ajudar. O rapaz do casal tornou a descer e disse-me onde tinha que por os pés, o André deu-me a mão para passar para o outro lado e quando lá cheguei abaixo vi mais uma das lindas e inigualáveis cascatas do gerês. Tirei a máquina da mochila e comecou a chover torrencialmente. Eu e o andré comecámos a correr para voltar, ele saltou e deu-me a mão mais uma vez para passar para o outro lado. Trepei por umas rochas com a ajuda de umas raízes de árvores e ele veio atrás de mim. Chovia torrencialmente, mais uma vez, andámos o mais depressa possível até ao meu carro, e quando lá chegámos já estávamos em versão pinto.
Uma subida íngreme e cheia de lençois de água era o que era necessário fazer para voltar ao parque de campismo, fi-la com muito cuidado e chegámos felizmente em segurança ao parque. Mudámos de roupa e resolvemos ir jantar os três ao restaurante do costume, a casa do criado. Eu pedi uma sopa, a Maria uns legumes salteados com batatas e sopa e o andré alheira e também uma sopa. Estava tudo delicioso. Pagámos a conta e voltámos para o parque. Fomos os três tomar um banho e vestir roupa seca . Era suposto ir-me embora na manhã seguinte mas não consegui tomar essa decisão, por isso decidi ficar mais um dia. Tinha que estar em Lisboa no dia 19 porque era o último dia para me matricular no mestrado por isso pelo menos mais um dia eu podia aproveitar.
Nessa noite ficámos os três a conversar nos balneários enquanto a Maria passava um dos seus cremes naturais nas mãos do André. O Sr. Carlos estava na recepção com um amigo que não via à 20 anos e que tinha ido até ao Gerês para o ver. Não quisemos incomodar e por isso envie-lhe uma sms a dizer que no dia seguinte gostávamos de ir às termas e a um sítio chamado as 7 lagoas, para as quais ele estava obviamente convidado , que nós oferecíamos.
Nessa noite a Maria deixou-me com uma lágrima no canto do olho. Ela disse que me admirava e eu senti-me grande, por um ser como ela, tão mágico achar que eu, uma pessoa simples, poderia deixar alguém como ela, uma pessoa super vivida , inspirada com a minha presença.
Descobrimos também nesse dia que a mãe da Maria tinha sido colega da minha avó os correios, que ela conhecia a minha a mãe e o meu tio. O mundo é mesmo pequeno.
Fomos os três descansar.
Na manhã seguinte acordei com a chuva, mais uma vez, o Sirius estava deitado à minha porta, dei-lhe as festinhas que dava todas as manhãs e fui acordar a Maria. O André infelizmente ia-se embora nesse dia, mas tinha um plano a cumprir e nós obviamente que entendemos isso mesmo.
O Sr. Carlos disse que iria conosco às 7 lagoas e que a nós se iriam juntar o casa que lá tinha estado na noite anterior, a Ana e o João, ambos super simpáticos.
Estávamos na recepção a cantar quando o André apareceu para se despedir, obrigámo-lo a tocar conosco uma vez que ele também é músico e toca em casamentos. Estava no meio de génios e não o sabia.
Arrumámos a mala , o andré entregou as chaves, trocámos contactos e despedimo-nos.
Entrámos no jipe e fomos até ao Tahiti, desta vez pelo caminho que não se deve ir, o mais perigoso. Devido à chuva torrencial a cascata estava com um caudal enorme e a zona onde tinha estado no dia anterior já estava submersa.
Seguiu-se ir até a uma cascata no meio de uma aldeia . Estava um gelo, e a água congelava os ossos. O sr. Carlos atirou-se à agua, segui-se a Maria e até a Ana. Começaram a picar-me e eu lá fui também. Senti os ossos do corpo todos a congelar, mas ia fazer aquilo uma vez na vida, e se nao o fizesse iria arrepender-me.
Mais uma vez começou a chover torrencialmente. Não tínhamos roupa para nos secar por isso tivemos que ir molhados. Entramos no jipe com destino as 7 lagoas. Não sabíamos como lá chegar por isso ainda nos perdemos algumas vezes. A estrada era extremamente esburacada , só podia ser feita com um jipe. Demorámos algum tempo a encontrar as lagoas. No caminho encontrámos imensas barragens e foi aí que o João e a Maria avistaram duas lontras, infelizmente não as vi.
Acabámos por encontrar as 7 lagoas mas não fomos até à agua porque resolvemos explorar o resto da montanha.
Uma paisagem soberba durante milímetros. Avistámos cabras, uma águia a sobrevoar os céus, cavalos selvagens e até uma carcaça ainda com alguma carne de um cavalo, provavelmente comido por lobos. Chegámos ao fim do caminho após mais de três horas de viagem, e não havia saída… Era super tarde e mais uma vez o almoço tinha sido bolachas. Eu tinha os pés gelados , continuava encharcada e não me consegui aquecer por nada. Tivemos que voltar para trás, pelo mesmo caminho. Quando demos por nós já passava das oito da noite. A Ana e o João tinham encomendado jantar na casa do criado para as 20h30, tiveram que mudar a hora. Chegámos à Ermida pelas 20h40, mudámos de roupa muito rapidamente e convidámos o Sr. Carlos e a D.Guida para jantar conosco, mas infelizmente alguém tinha que ficar na recepção. O Sr. Carlos veio conosco e fomos jantar, o mesmo grupo que tinha feito o dia na serra.
Rimos, falámos de desgraças, mas sobretudo divertimo-nos. Era quase meia noite quando saímos do restaurante, despedimo-nos porque iríamos embora no dia seguinte e voltámos ao parque. Estávamos exaustos e fomos descansar. A minha última noite no Ermida Camping e já estava nostálgica.
Acordei pelas 8h30, comecei a arrumar tudo, assim como a Maria. Ouvi baterem à porta, era a D.Guida com dois pastéis de nata acabados de fazer para mim para nos “compensar” pela chuva. Eles eram verdadeiramente especiais, senti-me tão agradecida por ter escolhido aquele parque de campismo.
Fomos acordar o Sr. Carlos para nos despedirmos dele, acabámos por ficar a falar durante horas. Tocámos na bateria elétrica dele, falámos que voltaríamos e eu prometi ajudar o parque a melhorar o seu website. Aquele espaço merece um website à medida deles.
A Maria tinha levado para o parque uma árvore que queria plantar no Gerês. Devido a tudo o que passámos naquele parque , aquele foi o local escolhido para a plantar. O Sr. Carlos e ela trataram de tudo e deram um abraço apertado no final. Eu melosa como sou desatei a chorar. Não queria ir-me embora, sentia-me em casa naquele espaço. Pela primeira vez em muito tempo sentia-me bem demais para me ir embora, mas tinha que ser, ainda tinha locais a visitar. Dei um abraço apertado à D.Guida e outro ao Sr. Carlos , entrei no carro e fui-me embora. Confesso que no caminho me caíram as lágrimas. Aqueles dois irmãos, assim como a Maria, o André, o João e a Ana, marcaram a minha viagem, e cada um deles, à sua maneira, tornaram aquela viagem especial. Algo que eu nunca esquecerei.
Foi na viagem de regresso que senti uma dor horrível no meu olho, pensei que já estivesse bom, mas mal o conseguia abrir. Tive que encostar de emergência varias vezes na berma. Fui até Ovar para comprar pão de ló de Ovar que queria levar para o meu avô que estava internado no hospital e lá para casa. Fiz o resto do caminho seguido para casa.
Cheguei já eram quase 21h, e sem dar por isso, a minha aventura no Norte tinha terminado.
Não tenho palavras para agradecer a todos, as aventuras que vivi, o que partilharam comigo, como me senti naquela serra.
Sem que eu tivesse dado por isso passou um verão. Tentei afundar a cabeça no trabalho para não pensar em coisas que não devia, e perdi imenso do verão, quer dizer, dos dias de sol. No entanto a verdade é que hoje vejo que alcancei coisas que eu achei que nunca seria capaz. Por mais “simples” que para outros seja, quem me conhece sabe da minha esquisitice, e sem me aperceber como peixe e broculos porque me apetece, comecei a adorar sushi (ainda que não de todos), perdi o meu medo de alturas, o medo de arriscar, lancei-me à aventura e hoje já não tenho medo de estar “sozinha”. Apercebi-me do quão estou diferente, perdoei-me por erros que cometi, e perdoei outros por me terem magoado. Se algum dia algo tiver que voltar para mim volta, se não, o tempo não pára por isso. Não guardo rancor, as boas memórias, sejam elas de que natureza forem, ficam comigo para sempre, e hoje, por isso, ainda que nem sempre tenha toda essa força, sou mais feliz por ter vivido todas estas experiências.”
Setembro de 2014
3 thoughts on “Roadtrip do Norte”
Uau!
Ao ler isto é como se estivesse a viver isto! Tão bom!
Melhor do que toda a viagem é sim a amizade que se criou e que permanece até hoje!
Caramba, há sítios que nos marcam mesmo e há pessoas tão especiais não é verdade? 😍
uau o mundo é mesmo pequeno, incrivél conheceste a Maria e afinal havia alguma ligação!
Sim, sem dúvida! A Maria é uma pessoa extraordinária!