Roadtrip pela Eslovénia – Dia quatro
Escrito a 4 de Julho de 2019.
“Sobre o quarto dia neste país.
Pelas 5h da manhã a lontra fofinha estava acordada , uma noite daquelas péssimas em que dormi 0 mas tipo 0 mesmo. Olho aberto, sem posição, roda peluches para um lado, roda peluches para o outro, tapa pé, puxa para cima , tapa ombro. Uma canseira.
Fiz double check nas coisas da minha mochila como sempre e rumo a Bled, o que me esperava? Um “passeio” pelos locais “must have” do parque Nacional Triglav. Escolhi fazê -lo em grupo para conhecer outros seres humanos, porque viajar sozinha pode ser estupidamente solitário e estava a precisar de exercitar estas cordas vocais.
Direito a Bled, à espera no parque de estacionamento do costume. E adivinhem quem veio dizer um oi? Aquela vontade de fazer um pipizinho. Lembram-se do que aconteceu no primeiro dia? Resolvi aguentar… ainda tenho comichão nas pernas desde o primeiro dia.
Chegou uma van toda kitada , 2 casais e o condutor , Matt.
Assim que entrei apresentei-me e comecei logo a pensar que me ia calhar 2 casais cheios de mel, mesmo o que eu precisava naquele momento… o Matt virou a cabeça em andamento e perguntou me de onde eu era. Perguntei aos vizinhos de banco da frente e de lado de onde eram, Austrália e Uk. Passado 5 minutos já estávamos a falar sobre atividades brutais e de quanto a Eslovênia era top top top. Eles tinham ido fazer canyoning no dia anterior .. como eu adorava ter feito.. sempre foi o meu desporto preferido do mestrado mas tem saltos.. e depois do mesmo tímpano furado 2 vezes num salto e de uma operação, evitar…
Seguimos até à nossa primeira paragem, uma cascata brutalona que cai literalmente do céu sem escorrer por rocha e cai numa pedra, no meio do nada. É possível dar uma volta de 360° à volta da mesma, sobretudo se forem kamikaze ou se tiverem umas boas botas de montanha , óbvio que fui, e sou a 2a hipotese, óbvio !
A água lá tem tanta força que chove literalmente em todo o lado num raio de 20 m. Uma cena que parece tirada de um filme com efeitos especiais . Ora hike para cima tem que ter hike para baixo.
Disse ao Matt que tinha feito o hike nos alpes julianos e em quanto ainda sentia dores tão grandes. Ele fez-me imensas perguntas e eu não entendia porquê. Disse-lhe que estive MESMO assustada , porque era tudo menos fácil e porque me senti totalmente abandonada na montanha mesmo tendo pago 70€ para fazer aquilo com guia e ele garantir a minha segurança, nem que fosse para ir à minha frente e poder ver quando eu caía da ravina..
Ele perguntou-me como o Ian tinha sido e eu disse -he tudo.. até que ele me diz que é o dono da empresa e que vai ter que falar com o Ian. Que os princípios dele e da empresa que ele e o irmão gémeo criaram ( o timmy 🙂 gémeos iguaisssssssssss) não eram aqueles e que há sempre grupos diferentes e se havia kilian jornetts comigo o ritmo deveria ter sido o meu e eu NUNCA devia ter ficado sozinha . Confesso que engoli em seco e achei que estaria em sarilhos. Perguntei -he se estaria e ele disse que eu não, mas o Ian estaria certamente.. temi pelo emprego dele certamente. Disse-lhe que as minhas críticas eram construtivas e que eu trabalhava parcialmente no meio e que nunca faria aquilo a ninguém tipo “olha nós vamos andando, esperamos por ti lá em cima” tipo whataaaaaa????
Disse-me que seria construtivo igualmente e que óbvio não seria despedido. Seria somente empurrado de uma ravina (palavras dele🤣).
Bem 30 minutos até chegarmos a um supermercado e eles compraram paparoca, óbvio que eu tinha farnel. Trocámos uns dedos de conversa e eu disse que precisava de ir à wc. Num café eles comeram e conversámos sobre as nossas experiências. Senti-me tão mas tão integrada naquele momento. Para eles eu era o killian jornet e é aquele momento em que o balde de baba é necessário debaixo do nosso queixo. Começo a trocar experiências de manobras de cordas com o Matt e a sentir que finalmente tenho alguém que me compreende e ouve, nem que seja por 2 minutos. Precisava disso…
Seguimos até à segunda paragem, um lago brutalérrimo com uma cor para variar LINDA!
E um sinal a dizer “snakes” óbvio que em esloveno e eu percebi pevas, mas a linguagem da ilustração toda a gente entende. Na Eslovênia há 4 perigos, cobras venenonas( 2 espécies), ursos (ataques), e teres umas botas de hiking do chinês (vais certamente morrer).
Estivemos os 20 minutos à procura das dita cujas (cobras óbvio) mas nada das princesas. Aposto que estavam em algum local a rir na nossa casa genero “keep trying”. Soltámos algumas gargalhadas naquele momento.
Depois da barriga cheia fomos até ao ex librís da montanha, o rio socka, o rio socka é conhecido pelo rio esmeralda, super limpido e do qual pudemos beber água diretamente sem ser preciso uma life straw ou pastilhas. Eu tinha feito reserva para fazer kayak no rio , na secção de rápidos. A annie e o ryan rafting, e a jullie e o ed zip line( slide). Estava assustada porque a última vez que estive em rios com rápidos quase morri (foi na Tailândia). Caí à agua e se não me tivessem ido buscar ainda hoje nao estava aqui para contar a história..
O Matt levou-nos até à cidade e deixou-os aos 4 porque a minha atividade era uma hora depois. Fiquei com ele. Sentámo-nos num café, ele ofereceu-me uma bebida e falámos durante uma hora. O Matt tem 32 anos, ruivo, olho azul, branquito, uma história de amor de 15 anos com a namorada e um bebê de ano e meio. Mostrou-me todas as fotos que ele tirava com o ferrari de maquinão dele. Sabem aquelas fotos em que se veêm as estrelas, e a lua gigantesca? O Matt é esse artista. Contou-me imensas histórias de acidentes dele, mostrou me as 3000 cicatrizes e eu contei as minhas, tipo como quem troca cromos da panini.
Soube-me pela vida aqueles 60 minutos.
Chegou a hora da minha “matança ” e lá fui eu em direção ao kayak. Cheguei lá e já lá estavam 14 pessoas, um tipo brutalérrimo de brutalérrimo fez a típica cena dos alcoólicos anónimos e disse “digam olá à marta”. Tudo em uníssono. Buraquito para me enfiar procura-se!
Vi logo que eram kayaks sit in, em linguagem de miúdos são aqueles em que nos sentamos no interior dos mesmos e ficamos com o tronco só de fora.
4000 peças de equipamento depois, seguimos para as carrinhas. O Eddy, o tipo brutalérrimo não conseguia dizer uma frase sem uma piada, obrigou-me a assinar um regulamento em que nao estava grávida, drogada, bebada, sabia nadar e não ia fazer chichi no fato ..
Óbvio que assinei.
Sabem aquela personagem do filme da Frozen que vive na casa alpina, gigante, bochechas vermelhas e uma voz hiper engraçada? Era o Eddy!
Trocámos 3 dedos de conversa e passado 5 minutos ja estávamos a discutir a melhores via ferratas da Eslovênia.
Os 5 que tinha no carro comigo eram espanhóis. Perguntou-me se entendia espanhol para que pudesse ficar no grupo deles. Disse que sim. O Pako, Isa, xavier, Mario e Nelson foram a minha companhia. Uma aula sobre como manobrar o kayak e uma hora de exercícios. Como puxar a saia e libertarmo nos do kayak se caissemos à agua, para não nos afogarmos.
1 hora depois lá estavámos nós , o primeiro rápido eram 20 minutos depois. Façamos o que fizermos NUNCA podemos deixar de pagaiar num rápido. O rio faz o que quer de nós e a coisa pode correr mal. Quis ir primeiro, ADOREI. Só queria mais mais mais mais e mais. Não queria que aquilo acabasse nunca. Foi tão mas tão brutal !!!!!!!!!!!!!!!!
Todos viraram o kayak menos eu, ainda hoje estou para entender como a mrs Marta Acidentes não caiu à água sem ser no treino 🤣.
E no fim lá estavam os 5, os meus amigos do dia a tirar me altas fotos e a gritar pelo meu nome como se me conhecessem desde sempre.
Nao levei a go pro comigo no capacete o Matt disse que dado o meu historial não seria fixe oferecer ao Socka uma oferenda de 500€.
Porra adorei aquilo. Fazia outra vez sem Qualquer problema.. nao custasse 60€..
À velocidade da luz mudei de roupa, deixei o material e despedi-me deles. Seguimos para os nossos últimos 5 wonders alpinos. Entro no carro pela porta lateral de correr e ao sentar me o Ed fecha à porta, adivinham que mão ficou entre a porta? Exato! Toquei lhe 3 vezes no ombro porque nem conseguia falar nem gritar. Até que ele salta do carro a pedir mil desculpas . O Matt mandou me enfiar a mão no rio imediatamente porque a falange do anelar tinha um buraco na direção errada 🤣😂 perguntaram-me como nao gritei. Confesso que ainda hoje não sei. Doeu para xuxu mas não conseguia falar. A partir daí tinha que gritar ao Ed quando ele podia fechar a porta 😂.
Seguimos curva contra curva em direção a Itália, uma praia de montanha lindíssima. Tirámos umas fotos brutais com a máquina do Matt, em breve irei poder ve las 🙂 ansiosa.
Tornámos a entrar na eslovénia e seguimos para o topo de uma montanha que tem uma placa ao início, são 65 curvas e contra curvas até ao topo… engoli em seco porque eu enjoo em todos os carros quando não sou eu a conduzir. Tinha comprimidos mas não queria voltar a ficar em modo bela adormecida. Queria aproveitar aquele dia no seu exponente máximo. Pela primeira vez em 4 dias senti-me parte de algo.
Desenganem-se quem acha que alguém gosta de viajar sozinho. Ou melhor, que eu gosto de viajar sozinha. Simplesmente a situação não me restou outra hipótese, seria isso ou não ir. Apesar de tudo a segunda nao me fazia grande sentido.
Seguimos até ao topo, já eram 19h30 e a tour devia ter terminado às 19h, e ainda faltavam 2 wonders. Mas ninguém parecia com muita pressa de ir para casa.
A annie era uma risota. Parecia uma autêntica cabra da montanha, mas no bom sentido, sempre a correr e aos guinchos com uma energia sem fim. Professora de 1o ciclo de profissão, sabia a dança do baby Shark de trás para a frente.. se não os podes vencer, junta-te a eles.
A jullie, morenaça de cabelo cacheado com um dos sorrisos mais bonitos que já vi, fazia me perguntas como as que fazemos ao nosso idolo de infância, e ouvimos com um brilho nos olhos.
O ED branquinho quase transparente, muito introvertido mas sempre preocupado se não me ia saltar a ponta do dedo 🤣😂
E o Ryan com imensas histórias sobre animais .
Seguimos para uma zona montanhosa onde há uma cara tipo MINUSCULA a quem chamam “a rapariga pagan”, a serio podia ser qualquer coisa 🤣😂 tal como em toda à volta, vimos o Mufasa, um peixe, um coelho e senhor gordo.. como nos rimos.. entre gargalhadas o dia estava a chegar ao fim.
Seguimos para o lago Jasna, já eram 8h30 e o sol estava atrás das montanhas. Mas não lhe tirava a beleza… eles ficaram no outro lado do lago e eu perguntei ao Matt se tinha tempo de ir ao lado mais longe.
Ele disse que sim. Fui e sentei-me a pensar no que me tinha trazido aquele local, num momento de introspeção. Foi tão introspectivo que passaram 30 minutos e tiveram que me ir buscar. De volta a Bled puseram uma música a tocar que me comeu os miolos e que passo o dia a trautear , a old town road. Cantámos em plenos pulmões os 6 naquele carro como se nos conhecessemos desde os 5 anos de idade… chegámos a Bled e eu fui a primeira a partir… agradeci-lhes por aquilo ainda que eles certamente não soubessem o que significou para mim. O Matt saiu do carro, abraçou-me e disse “obrigada pelo dia de hoje, gostei de te conhecer, sorri sempre”. Óbvio que me desfiz em lágrimas assim que a carrinha arrancou como quem deseja ser adoptada tipo logo aqui por aqueles 5 para que aquele dia se pudesse repetir até ao meu 9° dia na Eslovênia que terminou à pouco.
Encontro-me agora sentada num avião a aterrar em Zurique. Um caminho de montanhas de cortar a respiração..
Prometo que vou escrever o dia 5, 6, 7, 8 e 9 em breve. Acreditem.. há tanto para contar que gasto os caracteres do Facebook…“